quinta-feira, 14 de agosto de 2003

Eles não têm mais nada para fazer?

E se de repente fizessemos uma coisa destas?
Vejam a notícia que saiu no Público de hoje:

Subitamente, uma pequena multidão materializa-se num local de uma grande cidade. Não há palavras de ordem, apenas várias pessoas que fazem todas a mesma coisa, sendo esta acção por norma absurda: comem uma banana, gritam "sim, sim" ao telemóvel, fazem uns passos de ginástica ou aplaudem durante 15 segundos... e dispersam, tão rapidamente quanto se juntaram.

O fenómeno dá pelo nome de "flash mobs" e terá nascido em Nova Iorque, em Maio. O criador do primeiro evento chama-se simplesmente Bill e disse à "Wired News" que este era um projecto de arte performativa envolvendo um grande grupo de pessoas, que se juntam através de mensagens enviadas por "e-mail", em blogues ou outros "sites" ou até por telemóvel.

As "multidões instantâneas" começaram a surgir em outras cidades norte-americanas e europeias, como Berlim ou Londres, atraindo agora a atenção da polícia e das câmaras de televisão. Até agora não se registou qualquer incidente, e as multidões não têm, por regra, qualquer objectivo - isso será um dos seus lados mais fascinantes para os "media". Na Alemanha esta ideia está a ter um particular sucesso e até já está a ser pensada uma "flash mob" fictícia no Iraque.

"Não vás atrás do rebanho"
Depois de dois encontros se terem realizado em lojas de brinquedos da mesma cadeia em Nova Iorque e Londres, um dos "sites" dedicado às "flash mobs", o "cheesebikini.com", dá um conselho aos participantes, para que não sejam instrumentalizados por comerciantes: "evitem comprar durante, depois, ou no caminho para uma 'falsh mob'". Com ironia (ou talvez não), o "site" conclui: "Don't be a sheep!" ("Não vás atrás do rebanho!"). Um dos comentários mais frequentes que se lê nos "sites" sobre as "flash mobs" é: "Será que as pessoas não têm mais nada para fazer?". No entanto, há quem defenda uma razão profunda por trás deste fenómeno. "Há uma vaga de interesse em actividades que vão para além das instituições mais tradicionais", disse à "Wired News" o "blogger" Sean Savage, que segue o fenómeno. "Estas provam que as pessoas ainda podem fazer coisas acontecer que estão fora do alcance dos poder enorme, corrupto, dos governos e das empresas, que parecem dominar tanto a vida moderna", diz, admitindo de seguida: "Mas talvez esteja a analisar demasiado."

Não se pode dizer, no entanto, que não tenha havido projectos com algumas semelhanças: em relação ao uso dos telemóveis e Internet para reunir rapidamente um grupo de pessoas, é conhecida a rede de "teenagers" britânicas que dão alertas para possíveis presenças do príncipe Guilherme em algum local público. Quanto ao lado do absurdo, pode-se lembrar, por exemplo, os portugueses Felizes da Fé que surgiram em 1985, animados pelo então desconhecido Rui Zink junto com os irmãos Gilberto e Ricardo Gouveia. Os Felizes da Fé protagonizaram happenings/performances em Lisboa como manifestações "de apoio ao Governo", com o slogan "Cavaco é sexy", homenagens a Salazar, com 48 pessoas a cair de cadeiras, protestos contra "o fim do mês" ou concertos da "pior banda do mundo".

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