domingo, 10 de agosto de 2003

Esquerda e Direita (Volver!)

Apesar de fortes opiniõs em contrário, parece que ainda há uma diferença entre ser de esquerda e ser de direita. Pedro Mexia, que é escritor e que se assume de direita, escrevia um destes dias que negar essa diferença é negar a política e fugir ao que é importante.
E essa diferença está aí para quem quer ver: por mais que os actuais ministros digam que se preocupam muito com os pobrezinhos, é nítido o seu desconforto quando têm de misturar-se com o povo deste lado de cá dos muros da Quinta do Lago.
Acima de tudo, obviamente, essa diferença vê-se nas políticas apresentadas. A educação, por exemplo, tem sido vítima dos maiores cortes orçamentais, em acentuado contraste com a declarada "Paixão pela Educação" do governo anterior.
Pelo exemplo que escolhi, depreende-se que não confundo formulação de políticas com a sua concretização. O governo anterior fez tão pouco como este pela resolução dos problemas que afectam as nossas escolas e, por extensão, o futuro do país. Mas pelo menos a atitude é diferente. Onde o anterior governo socialista cortava timidamente, como se pedisse desculpa pela inépcia, o actual governo social-democrata/popular corta a direito, ufano e orgulhoso.
A manutenção desta diferenciação esquerda-direita não é, saliente-se, uma peculiaridade lusa: veja-se como o actual presidente americano, o ridículo Bush Filho, se distingue do divertido Clinton, que era tão à esquerda quanto o sistema americano permite. Para ambos, a defesa do império é uma questão fulcral, mas Bush conseguiu aumentar os lucros das grandes multinacionais enquanto criava vários milhões de desempregados. E fez a guerra, sinal inequívoco da extrema-direita.
Aliás, nesta triste questão da guerra se vê como as ideologias ainda existem: Blair, que proclamou ao mundo a Terceira Via, um mítico atalho na terra de ninguém entre os dois grandes pólos políticos, vê-se neste momento ultrapassado por todos os acontecimentos, tanto internos como externos. Bush, pelo menos, assume que é de direita e não pede desculpas por esse facto. E o nosso governo assume igualmente as suas filiações ideológicas quando emparceira com os americanos, acriticamente e cegamente, como um menino pouco inteligente mas bem comportado.
Resta-nos a esperança na alternância democrática. A direita está no poder. O país há-de voltar à esquerda, o mundo (conduzido por Washington, não adianta negar os factos) há-de voltar a esquerda, quando a ocasião surgir e o povo desesperar. O desespero já aí anda, acicatado pelo desemprego e pelas chamas de Verão. Resta-nos esperar pela ocasião.

Simão

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